domingo, 17 de fevereiro de 2008

Que Belo Dia para se Ouvir Roberta Sá


Talvez esse post esteja um pouco atrasado. Mas o fato é que eu não podia deixar de comentar o segundo, e não tão novo, CD da cantora Roberta Sá. Lançado no ano passado, “Que Belo Estranho Dia pra se Ter Alegria” de primeira me soou estranho. Achei o estilo dos sambas um pouco diferente do que eu costumava ouvir. Mas bastou algumas idas e vindas de ônibus para eu me apaixonar pelo disco. O que era estranho passou a ser novo e bom. O repertório do álbum foi escolhido a dedo. Entre os compositores, os meninos da nova geração da música brasileira Rodrigo Maranhão, Moreno Veloso, Junio Barreto, Edu Krieger e Pedro Luís. Dá pra ver que Roberta está atenta ao que há de novo na música brasileira, sempre tão produtiva. Porém, ela também fez questão de gravar os bons e velhos músicos do samba. Compositores antigos, como Sidney Miller, Carvalhinho e os bambas Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho são homenageados com os arranjos e a belíssima interpretação de Roberta. Além disso, traz compositores de nomes desconhecidos, como o baiano Roque Ferreira, presente em “Laranjeira”. E, junto com o companheiro Pedro Luís, Roberta assina a calma “Janeiros”. Uma cantora que conhece e estuda a música do Brasil. E que, assim como as outras grandes intérpretes brasileiras, sabe o que está gravando, dá espaço aos iniciantes, reverencia os antigos e não tem medo de gravar o que é bom.

Eu simpatizei com a Roberta desde a primeira vez que ela cantou no “Fama”. Talvez, por seu estilo ou seu repertório. Na época, ela não era a favorita da casa, mas mesmo assim ficou bastante tempo no programa. Depois disso, gravou “A Vizinha do Lado”, de Dorival Caymmi, especialmente para entrar na trilha sonora de “Celebridade”, a novela de Gilberto Braga. Confesso que não acompanhei o lançamento do seu primeiro CD, “Braseiro” (2005). Ouvi o álbum uma vez só. Mas via que Roberta estava cantando nos lugares mais falados no meio musical carioca. E que estava cantando com gente da pesada, participou do DVD do MPB – 4, que comemorava 40 anos de carreira. O grupo, por sinal, participou do “Braseiro”, cantando “ Cicatrizes”. “Que Belo Estranho Dia...” também tem participações especiais de peso. Lenine canta com Roberta “Fogo e Gasolina” e Pedro Luís fecha o disco em “Girando na Renda”, música dele. Em uma entrevista para Marília Gabriela, ela diz que seu CD é “leve e bem humorado, pra te fazer feliz”. Eu assino em baixo. O disco é daqueles que te alegram quando você está triste e deixam mais feliz quando você já está contente.

Roberta me surpreendeu muito, apesar de já apostar as fichas nela desde a época do “Fama”. Pra mim, ela já é uma intérprete e não apenas uma cantora. Já é batido, quase um clichê dizer que Roberta Sá é uma das maiores cantoras da nova geração, que sua voz está madura e que seu timbre é de dar inveja em muita gente que faz sucesso por aí. Mas é impossível discordar de tudo isso e não dizer: “ela veio pra ficar.”


Assista a um trecho da participação de Roberta Sá no programa "Ensaio", da TV Cultura.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Para começar, uma homenagem

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade da alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.


Adélia Prado, a autora da poesia acima é mineira como eu. Nascida e criada em Divinópolis, viveu a tradicional vida de interior . Sua obra tem total influência desse tempo. E o " Com licença poética", apesar de fugir um pouco dessa característica, é um dos meus poemas prediletos. E isso, simplesmente, por ter alguns versos simples, lindos e significativos, com os quais me identifico. Isso vocês vão perceber aos poucos, à medida que esse blog for sendo preenchido. Certa vez, meu pai esteve com ela em algum evento em Belo Horizonte. Era próximo ao meu aniversário. Ele comprou uma antologia de seus poemas e ela autografou: "Para Elis, que ama a poesia, só carinho. Adélia Prado." Por tudo isso, o primeiro post do meu blog é em homenagem a ela.