domingo, 10 de agosto de 2008

O último desejo de Noel Rosa


A genialidade de Noel Rosa se deu até o último instante de sua vida. Já em seu leito de morte, derrubado por uma tuberculose, o compositor que foi um divisor de águas na música brasileira, fez um pedido ao amigo e parceiro Vadico. O último desejo da vida de Noel foi que o amigo aprendesse a melodia de uma música que ele havia acabado de fazer para seu grande amor, a dançarina Ceci. A letra de “Último Desejo” é como uma despedida do compositor. Irônica, forte e, provavelmente, dolorosa para Ceci, é difícil acreditar nas circunstâncias em que ela foi feita. Mais incrível ainda é saber que a “dama do cabaré” recebeu a letra da música juntamente com a notícia da morte de Noel, que faleceu um ano antes de ver a canção lançada por Aracy de Almeida, sua interpréte preferida.

Histórias à parte, “Último Desejo” é um clássico. E atire a primeira pedra quem não acha a sua melodia uma das mais bonitas da música brasileira. Pra quem não a conhece, o vídeo abaixo traz Maria Rita interpretando a canção, no programa Som Brasil em homenagem a Noel Rosa.



quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Está chegando a hora...


A fama que corre por aí é a de que o mestre João Gilberto é uma das pessoas mais mal-humoradas e ranzinzas do planeta. Mas, suponho eu, nosso músico deve estar com um sorriso que vai de orelha a orelha. É natural ( estranho seria se não fosse) que os quatro shows que João vai fazer aqui no Brasil, em comemoração aos 50 anos da Bossa Nova, estejam sendo extremamente esperados pelo público. Afinal, ele é considerado o " pai" da Bossa Nova ( há controvérsias), mora nos Estados Unidos há anos e não faz a menor questão de aparecer em público. Mas a rapidez com que os ingressos para os shows de São Paulo foram vendidos deve ter deixado o artista com o ego massageadíssimo. A venda começou nesta terça-feira, dia 05, às dez da manhã e às 11h23, já estava encerrada.

No Rio, a batalha para comprar as entradas começa na próxima quinta-feira, dia 14. Dizem as más línguas que metade dos ingressos do Municipal já estão garantidos para o patrocinador do evento, o ItaúBrasil. Quem quiser garantir a presença no show vai ter que reservar um tempo da sua manhã para enfrentar o congestionamento do site de vendas de ingresso ou a fila, que deve dar voltas na praça da Cinelândia. Mas quem é que tem tempo para se deslocar até o Centro em busca de bilhetes já reduzidos à metade? Comprar meia - entrada, dessa vez, não está passando nem perto das minhas idéias.

Mundo injusto! Nem meu direito de estudante vou poder exercer.
Bom, espero que João Gilberto, pelo menos, toque feliz.

sábado, 12 de abril de 2008

" Gota D' Água "


Depois de uma temporada em cartaz no Teatro Glória, o espetáculo “Gota D’ água” reestreou, no início do mês, no Teatro Carlos Gomes, no Centro do Rio. Fui conferir a peça sob influência de uma amiga: “Elis, é muiiiiiito bom, é **** e você tem que ver!” Como não sou boba e obedeço a ordens de quem realmente gosta e entende de teatro, fiz das palavras da Isadora uma intimação.
Claro que só pelo texto, já valeria a pena. A peça escrita por Paulo Pontes e Chico Buarque é um dos musicais mais reverenciados do teatro brasileiro e, pra quem já leu a obra, assisti-la no teatro tem um gostinho diferente. É como se aquilo tudo realmente existisse. O texto foi montado pela primeira vez em 1975 e tinha Bibi Ferreira como protagonista. Começando por aí, fica evidente a dificuldade de se remontar “Gota D’água”. Há que se ter muita coragem, determinação e sensibilidade. Sensibilidade foi o que mais teve o diretor João Fonseca, orientador do grupo. O diretor estudou os sentimentos dos personagens e tudo o que está implícito nas falas atribuídas a eles. Estudou tanto que compreendeu cada detalhe e tomou a liberdade de encaixar na peça duas canções do Sr. Buarque que não foram feitas para a ocasião. Fez com que “Partido Alto” e “O Que será – à flor da pele” parecessem realmente parte do texto original.
O cenário, a princípio simples e prático, surpreende a platéia ao final do primeiro ato em uma das cenas mais impressionantes, bonitas e arrepiantes que eu já vi no teatro. O elenco, composto por 10 atores/cantores, está afinadíssimo na interpretação e no canto, mas o destaque vai para Izabella Bicalho, que interpreta a protagonista Joana. Izabella traz uma força dramática, uma intensidade de mudar o tom do palco e da platéia a cada vez que ela entra em cena. Palmas, também, para a banda que acompanha o espetáculo. Os músicos ficam lá no fundo do palco, atrás do cenário, meio escondidos, meio aparecendo, mas estão atentos, fazem parte da história e interagem com os atores.
Então, depois da rasgação de seda, vou atender ao pedido que a atriz principal fez no final do espetáculo e informar aos amigos: “Gota D’água” fica em cartaz até o final de maio no Teatro Carlos Gomes, na Praça Tiradentes, s/no. O preço – impossível fazer reclamações sobre ele – é R$25,00 a inteira e R$ 12,50 a meia-entrada. Mais algum estímulo?


domingo, 17 de fevereiro de 2008

Que Belo Dia para se Ouvir Roberta Sá


Talvez esse post esteja um pouco atrasado. Mas o fato é que eu não podia deixar de comentar o segundo, e não tão novo, CD da cantora Roberta Sá. Lançado no ano passado, “Que Belo Estranho Dia pra se Ter Alegria” de primeira me soou estranho. Achei o estilo dos sambas um pouco diferente do que eu costumava ouvir. Mas bastou algumas idas e vindas de ônibus para eu me apaixonar pelo disco. O que era estranho passou a ser novo e bom. O repertório do álbum foi escolhido a dedo. Entre os compositores, os meninos da nova geração da música brasileira Rodrigo Maranhão, Moreno Veloso, Junio Barreto, Edu Krieger e Pedro Luís. Dá pra ver que Roberta está atenta ao que há de novo na música brasileira, sempre tão produtiva. Porém, ela também fez questão de gravar os bons e velhos músicos do samba. Compositores antigos, como Sidney Miller, Carvalhinho e os bambas Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho são homenageados com os arranjos e a belíssima interpretação de Roberta. Além disso, traz compositores de nomes desconhecidos, como o baiano Roque Ferreira, presente em “Laranjeira”. E, junto com o companheiro Pedro Luís, Roberta assina a calma “Janeiros”. Uma cantora que conhece e estuda a música do Brasil. E que, assim como as outras grandes intérpretes brasileiras, sabe o que está gravando, dá espaço aos iniciantes, reverencia os antigos e não tem medo de gravar o que é bom.

Eu simpatizei com a Roberta desde a primeira vez que ela cantou no “Fama”. Talvez, por seu estilo ou seu repertório. Na época, ela não era a favorita da casa, mas mesmo assim ficou bastante tempo no programa. Depois disso, gravou “A Vizinha do Lado”, de Dorival Caymmi, especialmente para entrar na trilha sonora de “Celebridade”, a novela de Gilberto Braga. Confesso que não acompanhei o lançamento do seu primeiro CD, “Braseiro” (2005). Ouvi o álbum uma vez só. Mas via que Roberta estava cantando nos lugares mais falados no meio musical carioca. E que estava cantando com gente da pesada, participou do DVD do MPB – 4, que comemorava 40 anos de carreira. O grupo, por sinal, participou do “Braseiro”, cantando “ Cicatrizes”. “Que Belo Estranho Dia...” também tem participações especiais de peso. Lenine canta com Roberta “Fogo e Gasolina” e Pedro Luís fecha o disco em “Girando na Renda”, música dele. Em uma entrevista para Marília Gabriela, ela diz que seu CD é “leve e bem humorado, pra te fazer feliz”. Eu assino em baixo. O disco é daqueles que te alegram quando você está triste e deixam mais feliz quando você já está contente.

Roberta me surpreendeu muito, apesar de já apostar as fichas nela desde a época do “Fama”. Pra mim, ela já é uma intérprete e não apenas uma cantora. Já é batido, quase um clichê dizer que Roberta Sá é uma das maiores cantoras da nova geração, que sua voz está madura e que seu timbre é de dar inveja em muita gente que faz sucesso por aí. Mas é impossível discordar de tudo isso e não dizer: “ela veio pra ficar.”


Assista a um trecho da participação de Roberta Sá no programa "Ensaio", da TV Cultura.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Para começar, uma homenagem

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade da alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.


Adélia Prado, a autora da poesia acima é mineira como eu. Nascida e criada em Divinópolis, viveu a tradicional vida de interior . Sua obra tem total influência desse tempo. E o " Com licença poética", apesar de fugir um pouco dessa característica, é um dos meus poemas prediletos. E isso, simplesmente, por ter alguns versos simples, lindos e significativos, com os quais me identifico. Isso vocês vão perceber aos poucos, à medida que esse blog for sendo preenchido. Certa vez, meu pai esteve com ela em algum evento em Belo Horizonte. Era próximo ao meu aniversário. Ele comprou uma antologia de seus poemas e ela autografou: "Para Elis, que ama a poesia, só carinho. Adélia Prado." Por tudo isso, o primeiro post do meu blog é em homenagem a ela.